sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Thorns











I

Ao banharmo-nos no esplêndido mar calmo e cristalino onde pequenas pétalas de rosas flutuam lenta e suavemente cremos que a sua magnificência permanecerá eternamente. Que as suas águas límpidas nunca resfriarão, que onda alguma se formará ou levará no seu imenso turbilhão de espuma todo o nosso amor. Que jamais as pétalas murcharão e o seu aroma se extinguirá.

Submergimo-nos nesse mar, maravilhados e hipnotizados deixamo-nos levar pelo seu toque de águas quentes que nos acaricia todo o corpo. Nas suas profundezas a escuridão é ofuscante, todo o som é mar, toda a voz é abafada pela água sorvida a cada palavra. O aroma das rosas, uma memória tão vaga e distante.

Espinhos serpenteantes surgem do fundo mais negro do mar mais frio. Enrolam-se no nosso corpo. Enrolam-se nos membros. Enrolam-se no tronco. No corpo de carne perfurada e rasgada por espinhos. O corpo arrastado para o fundo mais frio e para o silêncio mais negro que é o mar.

O mar frio e silencioso, a treva. O mar todo. O frio, o medo calado e escuro. O nosso medo a ser um mar, o infinito que nos afoga.
Rasgamos o frio inteiro. Libertamos o silêncio. Largamos, a escorrer, a treva. A nossa carne não será dilacerada por espinhos, pois abandonamos o imenso mar.

II

Ansiamos por uma gota de água refrescante.

O nosso corpo dorido e exausto coberto de chagas. A alma a gritar a cada espinho.

Ainda assim caminhamos, de mão entrelaçadas, rumo ao desconhecido. O olhar do abismo cai sobre nós com toda a sua fúria. Caminhamos entre espinhos. Cada passo o primeiro, cada passo nós, cada passo o mundo. Cada passo o mundo que somos nós e o nosso amor entre os espinhos.

Uma rosa no horizonte, como uma miragem. Uma rosa do tamanho do mundo… do mundo que somos nós e na qual apenas nós cabemos. A sua essência é amor. A sua essência somos nós.

A chuva a lavar a dor. A chuva que apaga o frio, o silêncio e as trevas que é o medo. O medo que é o mar que agora cobre os espinhos.

Banhamo-nos pois para nós o medo não é um mar que nos afoga. O mar não é medo mas sim força. E quando mergulharmos nele o nosso corpo despido de receio e a nossa alma lavada de dor, será assim, de mãos entrelaçadas, que nos desenvencilharemos dos espinhos.

Tatiana Pereira

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