domingo, 18 de setembro de 2011

Cadáver
















Pintaria os céus de fumo se os dissesses negros
E dilacerando-me o espírito corpóreo
Sorriria no sangue que te cobrisse as mãos

O teu epitáfio de lágrimas
Num rio extinto que ainda te chora
No cemitério dos que suspiram

Castiga-me por beber do cálice sagrado
No corpo profano coberto de chagas
Serei a terra delineando a tua silhueta

Tatiana Pereira

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Green Fields of Deception













Strip an Angel from its wings
Take the crowns from your kings
Rape their daughters and their sons
Slay all priests and all nuns

Torch the castle up above
Deprive virgins from true love
Spread venom on green fields
Turn to dust thy silver shields

Pray the Devil for redemption
For the worlds’ sick deception
Kiss a roses’ withered bloom
Bloody petals and thorns of doom

Akila Sekhet

Cosmos












Nos ribombos de espuma cósmica
Trocam-se partículas sedimentares
Nos grãos de pele coberta de musgo

Este, que toca a estrela esboçada
A carvão branco de aura aquosa
No tumulto de nuvens agitadas
Em rochosos mares flutuantes

Salinas celestes fundem-se na montanha
Onde a esfera púrpura se abriga
Nas folhas de muralhas dançantes

As ondas rebentando no Sol nascente
De uivos desenhando o horizonte a cores
E de margens ofuscando o vento glacial

O aromático abismo das trepadeiras
E criaturas negras de caninos escarlate
Pairando sobre a neblina imponente
De constelações desvanecentes

Tatiana Pereira

Beneath the Skin












My trembling heart in its frozen depth
Craving for deliverance in lustful sighs
Surrendered by the warmth of your passionate breath
Caressing your figure in the line of sight

Your thighs firmly around my waste
Pulling me closer; shivering
Stripped bosom flickering
Arousing scent which I long to taste

Our feverish silhouette of flaming desire
Panting, moans from your velvet lips
Silky wet skin on my fingertips
In the darkness spreading liquid fire

Pleasure flowing through our flesh
Under temptations’ dominant slash
Overwhelming ecstasies were embraced
Your eyes reflecting my disgrace

From this moment I can feel it
Sending chills down my spine
Catharsis cleansing our very spirit
With your soul entwined in mine

Akila Sekhet

Helel
















O sangue arbóreo na lâmina de espadas
Vertendo carpos de gumes gotejantes
Em cálices de madeira fresca

Novelos de tons efervescentes
No bulício de lava ascendente
Espelhando mártires munidos de foices
E tiranos coroados com espinhos

Deidades de asas pregadas em vultos negros
Soprando um céu de lágrimas escarlate
Sob a face cadente das estrelas

Tatiana Pereira

Morimundo













Na estranheza familiar da narrativa, talvez de loucura rejeitada pelos sentidos ou dos sonhos que não me invadem, as minhas amigas são as folhas brancas de papel. Brancas e puras virgens que eu mancho com meus suplícios. Tudo que me dão é aquilo que erradicam de mim e na sua pureza não se esculpe a crueldade.
Brevemente morrerei e é tempo de aliviar minha alma de acontecimentos aterrorizantes. Estes, que me torturam e aniquilam. O horror desprovido de explicações. Fantasmas de inteligência excitável, talvez menos terríveis que grotescos, na sucessão de causa e efeito. Espíritos fantasiosos na troca de palavras, buscando a cura altruísta quando palavras profanas escorrem de lábios doces, no exorcismo do flagelo e na dissolução demoníaca. Descendo os caminhos infinitos do amor incondicional e oferecendo a vulnerabilidade em bandejas de prata. A sucessão de causa e efeito num mundo sem sabores. Na fuga ao infortúnio, o fastio da estagnação nos passos em solo divino. A paz para além das chamas mundanas que envenenam os bosques. E gritando o ódio ao mundo, ouvir ecoar o amor dissimulado implícito. Matar e morrer na cobiça inconsciente para renascer uma vez mais.

Tatiana Pereira

Feathery Bliss
















And the darkness within me was filled by an angel’s shining light

Bringing on its wings feathery bliss from heaven’s might

Scorched the ashes persistently pouring from my soul

Reaching the hidden treasures buried deeply in a mystic hole

While gliding softly through the ocean of a stormy beating heart

With its superb touch the skies were ripped apart

And its astonishing glimpse ignited a never-ending fire in the night

Spreading leaves into the sleeping children’s eyes

Endlessly building a love that never dies


Tatiana Pereira

Wonders













The silent stare breaks through the night sky
Kissing under the camouflage of meaningless words
All we have becomes what we give
and what it is given to us in return

Frightened by the floating awkwardness
trespassing our hearts and our minds
Our whispering lips hiding our souls’ shouting voices
Allowing reason to overpower impulse

Whirlwinds are created in the place our eyes meet
With shooting stars dancing above our heads
and bells tolling in the distance
Whenever we glimpse at the forthcoming farewell

Tatiana Pereira

Thorns











I

Ao banharmo-nos no esplêndido mar calmo e cristalino onde pequenas pétalas de rosas flutuam lenta e suavemente cremos que a sua magnificência permanecerá eternamente. Que as suas águas límpidas nunca resfriarão, que onda alguma se formará ou levará no seu imenso turbilhão de espuma todo o nosso amor. Que jamais as pétalas murcharão e o seu aroma se extinguirá.

Submergimo-nos nesse mar, maravilhados e hipnotizados deixamo-nos levar pelo seu toque de águas quentes que nos acaricia todo o corpo. Nas suas profundezas a escuridão é ofuscante, todo o som é mar, toda a voz é abafada pela água sorvida a cada palavra. O aroma das rosas, uma memória tão vaga e distante.

Espinhos serpenteantes surgem do fundo mais negro do mar mais frio. Enrolam-se no nosso corpo. Enrolam-se nos membros. Enrolam-se no tronco. No corpo de carne perfurada e rasgada por espinhos. O corpo arrastado para o fundo mais frio e para o silêncio mais negro que é o mar.

O mar frio e silencioso, a treva. O mar todo. O frio, o medo calado e escuro. O nosso medo a ser um mar, o infinito que nos afoga.
Rasgamos o frio inteiro. Libertamos o silêncio. Largamos, a escorrer, a treva. A nossa carne não será dilacerada por espinhos, pois abandonamos o imenso mar.

II

Ansiamos por uma gota de água refrescante.

O nosso corpo dorido e exausto coberto de chagas. A alma a gritar a cada espinho.

Ainda assim caminhamos, de mão entrelaçadas, rumo ao desconhecido. O olhar do abismo cai sobre nós com toda a sua fúria. Caminhamos entre espinhos. Cada passo o primeiro, cada passo nós, cada passo o mundo. Cada passo o mundo que somos nós e o nosso amor entre os espinhos.

Uma rosa no horizonte, como uma miragem. Uma rosa do tamanho do mundo… do mundo que somos nós e na qual apenas nós cabemos. A sua essência é amor. A sua essência somos nós.

A chuva a lavar a dor. A chuva que apaga o frio, o silêncio e as trevas que é o medo. O medo que é o mar que agora cobre os espinhos.

Banhamo-nos pois para nós o medo não é um mar que nos afoga. O mar não é medo mas sim força. E quando mergulharmos nele o nosso corpo despido de receio e a nossa alma lavada de dor, será assim, de mãos entrelaçadas, que nos desenvencilharemos dos espinhos.

Tatiana Pereira

Despertar













A água das manhãs e a frescura vegetal
De seiva volátil preenchendo os dias
Soprando em vozes de cisnes alados
Com paisagens ululando ao sabor do vento

As manhãs, afagando plumas de serafins
Germinando em solos mortos
E á beira dos rios
Com diamantes caindo em gota

Espectros pairando para lá das nuvens
E rosas brotando do céu
Vórtices de cores na transparência dos dias
E cristais nos pontos de luz do sol

O leito de pétalas escarlate
E do azul infinito do horizonte
Os grãos de areia da montanha
Crepitando na fogueira da nascente

Onde a dormência da neblina
Repousando na folhagem verde de jardins
Cobertos geada prateada e luminescente
Se mistura com o sussurro silencioso dos narcisos

Tatiana Pereira

Harmonia












Ouço sinos tocados p'los anjos e as flautas dos faunos
Vejo ilusionistas refulgentes em telas negras de carvão
E unicórnios entrelaçados em serpentes
Sinto na face a brisa perfumada das fadas
E respiro o pó das estrelas

A terra húmida entre as ervas; Fendida
Sob a carícia de trovões; Derramando
O incenso da Lua sobre os mares de prata
E a matéria incandescente sobre os rochedos

Carrego no peito o fardo de harpas e tambores
Que de melodias celestes pulverizam o ar
E que de véus cobrem
A atmosfera etérea dos sepulcros

Tatiana Pereira

Inalcançável às Avessas

O equilíbrio às avessas
Inalcançável pó de ervas daninhas
De garras cravadas em lâminas 
No sangue, um céu terreno
Canibalizando a essência
De prisões pinceladas a liberdade
Onde a morte de cinzas surge
Em ciclos negros tingidos de criaturas
Tatiana Pereira

Momento













Nas trevas dos olhos fechados

As mãos delicadas no marfim

Cada nota ao compasso do coração

O sufoco a cada baforada 

Com o fumo dançando a melodia  

O corpo imóvel a ser a dor

A alma na ponta dos dedos 

A noite dentro do ser


Tatiana Pereira

Mirage

 
 
 
 
 
 
Worse than not knowing how to fulfil a dream is finding out that such place does not exist, that the blow that has inflated us with new life was no more than a mirage under the torrid desert sun, which we never left and lived in imagining beautiful places.
 Tatiana Pereira