sexta-feira, 27 de abril de 2012

Quimera












Neste banco de jardim repouso
Em doce quimera, respirando o ar
Puro e crepuscular da tardia Primavera
E observo atentamente o horizonte
De céu pintado a carmesim -
Por detrás de frondosos limoeiros
Que aqui cresceram em vão
Porquanto maduros frutos sempre
Mirram em invernais aguaceiros

Trago histórias no meu coração
Que talvez adocem os vossos ouvidos;
Mais não seja pela compreensão
E paz d’alma dada aos incompreendidos,
Pois não passa de um monólogo vulgar,
Esta simples história que vos ouso contar.

Mas primeiro uma pergunta
(se me permitem a ousadia)
Imagine-se hipoteticamente
Uma árdua disputa entre
A coragem e a cobardia.
Deixemo-nos de enigmas,
Não desejo ser impertinente…
Pergunto então quais seriam
Os estigmas originados
Consequentemente?

É como a estranha feitiçaria que se vê
Em autómatos de aguçadas e compridas línguas,
Estabelecendo diálogos carecidos de amor à vida
Com todo o esplendor à sua mercê;
Como pode ser concebível olhar tanto sem se ver?
Espirito alienado! Não vedes mais que o aliterado
Cujo olhar morre na folha ao tentar ler!

Em tudo, o nada é perceptível e oh!
Como temo! O tempo avança
E a regressão humana é um extremo
Que corrompe a esperança…
Renuncio a virulenta ameaça descrita
Nos livros da lei e religião, gritando
Ao mundo o meu mais altivo “Não!”
Nesta farsa obsidiante de plenitude constante

Mas ah! Estou em crer que vos confundi…
Ouço a vossa mente refutar incessantemente
Que não houve qualquer espécie de conto aqui;
Perdoai, sou apenas uma alma envelhecida
Sibilando o veneno de palavras vãs que ferem
A calma desmedida dos que se privam
Daquilo que verdadeiramente querem

Adoraria dizer com leveza
Que chegáramos ao fim,
Mas estas linhas foram traçadas
Muito para além de mim
E embora não possa, com certeza,
Asseverar a lonjura
Deste conto horripilante
Creio resolutamente
Que perdurará doravante.

Akila Sekhet

terça-feira, 24 de abril de 2012

Abismo












Caos que aflora nas particularidades
Efémeras de outrora; Etéreas faíscas
De relances primordiais arrastando-se
No alvor da metamorfose que foge
Do pensamento medíocre da glória

E agora, nas areias infindas
Reencontram-se personagens
Tão bem (por mim) conhecidas
Do que o é e do que fora

Nesses tempos, em que a combustão
Se dava nas partículas aquosas
Que escorriam pela inocente carne
Alimentada na mundana ilusão
De ideias mentirosas… ou talvez não!

Separando-me do abismo 
Para me abandonar no deserto,
Abnegando o cataclismo
Que se demonstrara tão certo

A abissal perda de identidade
Em submissões de negra realidade;
Ideais e crenças prostradas
No fogo árido da credibilidade

Divina besta interior agachada,
Erguendo-se pela coluna avigora
Na pedra lascada do pilar do Eu
Supremo que cresce a cada fronteira;
Mas de qualquer forma, sou!
O que fui e o que nunca aconteceu
E ao Mundo vejo-o à minha maneira.

Tatiana Pereira

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Forgiven - Forgotten















“Forgiveness does not go hand in hand with forgetfulness”

Eis que se asfixiam sobre as correntes humanas que lhes foram impostas nos pescoços. Sobre caminhos opostos, caminham! Mutilando-se mutuamente nas sombras das suas proporções.

E quando o ideal do esquecimento se torna na fuga perfeita da presencial dor, virando a cara, a rápida cicatrização brilha nos vergões avermelhados de cicatrizes que escurecem no subconsciente da coroa.

“O derradeiro perdão poderá apenas advir da verdadeira compreensão”

Forgetting is impossible and so is happiness by that matter
In order to understand, one must remember
And bring up the memories from the heart and soul
Not from the ego… neither from grief nor anger

And here lies the ultimate paradox!

Being comprehension born from empathy
And empathy a part of love
How can it be hard to forgive a loved one?

Não vos envergonheis nem lisonjeeis, pois não existe humilhação nem altruísmo no simples perdão. Quer o queiram ou peçam, quer mereçam, quer não.

Conhecei-vos no íntimo e ireis deslindar o mundo dos seus tons. Pintar de ouro aquilo que se assombra a si mesmo na penumbra e ver a beleza das lágrimas, uma a uma.

A perfeição existe em distintas lacunas, (como no Sol existe o fogo do Espirito) e nas crateras que tão distintamente formam a Lua.

Na relevância não reside o esquecimento - criado e alimentado, veneno mortífero! – É a repressão do sofrimento.

Que nos faz tomar todas as decisões erradas…
Which drives us to make all the wrong decisions...

Remember, every bit of glass that rips you apart
And let the sun shine through its clearness
So that from every drop of blood may be taken
The knowledge to do the right thing
In the end...

Akila Sekhet & Tatiana Pereira

quarta-feira, 18 de abril de 2012

O Céu Que Se Esconde














Quanto gritam – o desespero
Que vibra nas guelras das aves
Sem asas…

Invisível, a ser o céu
Que se esconde na transparência
Das nuvens de saliva salgada

E o fluxo que corre nas veias
Do pão que me alimenta
Não é mais que sangue teu!

E a pirâmide que se inverteu
Apoiada no cume
De arestas rasga o céu!

Oh sonho! Que te apagas
Energúmeno…

Globos percorrem a carne
Pelos estímulos gravitacionais
De similares órbitas

No paladar metálico do aço
Que amordaça a voz da alma
Escondido!Para se esquecer.

Akila Sekhet

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Cherry Blossom












Through the dead valley I’ve seen
- Amongst the thorns and the spikes -
Sweetest cherry blossom flaming
Seeming purely divine

Blowing ever so discretely
(I just wished you could believe)
A trickery wind pushes you away
Into forged paths you can’t perceive

Wicked plagues rot upon thee
And it’s too much for me to stand
Spread your leaves throughout the world
Make your future yours alone
So that mourning shan’t be the end

 Rise up, release your glory
Life offers us many treasures
Breathe in, rewrite your story
Savor all the simple pleasures

Maybe it’s time that I move on
And by this thought my soul ignites
From now on, I shall be gone
Becoming merely a darkening light

Akila Sekhet

domingo, 8 de abril de 2012

Labirinto


No bronze do estandarte
Que paira para lá do alcance
A Terra honra a sua arte
De maravilhas que acatam armadilhas
Na personificação de um romance

Em ocultas e negras parábolas
Se escondem as mais brilhantes fábulas;
Contos de teias mortíferas,
Dançantes moscas melífluas,
Pela aranha graciosa
Acabarão por sucumbir

Jamais esquecerei como são,
Minúsculas - grão a grão -
As partículas que erguem a montanha;
E a olho nu (invisíveis, como eu e tu)
Os átomos oxigenados dos oceanos
De estrondosa artimanha

Assim o ser se expande
Por inimagináveis planos
(Dos quais) buscando do fundo
Abrange significados tais
Capazes de derrubar o Mundo.

Tatiana Pereira