quarta-feira, 30 de maio de 2012

Solidão















Reflito num pensamento que tampouco
Pensei e pelas frestas engendrei caminhos
Únicos que subitamente não percorro;
De onde surgem estes pensamentos
Que não são meus? Estes, em que morro…

Mas a solidão vem e parte e vem
Oh, esta solidão da saudade de um tempo
Em que me amei e também ao mundo
Que eu sei! Sim! Eu sei, que do todo a sua
 Parte sublime eu então desfrutei

Ou talvez ilusão… as minhas pernas
Caminham em passadas mais largas que a razão
E a mente alucinada escapa para realidades
Que inconscientemente criei

E no corpo: Oh, corpo de sangue
E sangue de água putrefacta do lixo
Sentimental de tudo quanto quis,
Do que estimo ou me orgulhei;
Esperanças vãs que imaginei semear
Em duvidoso algo ou alguém

E o seu perfume me seduziu;
E a linguagem do coração me iludiu;
E a água, oh doce água nas palavras
Desentendidas de quem (não sendo cego)
Também nunca viu… o amor… no real
Sentido em que me atingiu

O seu nome é Solidão… Lembro-me
De quando trocámos olhares
Que deram as mãos, e da sua língua
Ardente deslizando no meu peito
E me devorando o coração

Seus enganos “amo e amo” sussurrados
No meu ouvido como brisas primaveris
Que me faziam salivar pelos seus aromas
Subtis que nunca antes havia sentido

E fazíamos amor, “Amor” dizia eu -
Enquanto se satisfazia com o meu corpo
Despido, divertindo-se comigo
Minha doce e amada Solidão

Tatiana Pereira

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Linha Invisível















Vade retro! Toda a apatia
Catatónica da indiferença
Na qual vivem os mortos!

Clamo que no meu finado olhar
Não se espelhe o submisso
Conformismo social
No qual vivem os leigos

Prezo e guardo maior respeito
Às vicissitudes do corpo e do espírito
Do que às tão aclamadas virtudes
Automatizadas dos demais

Escarro na manchada bandeja
Em que me é servida a bondade
E a clemência de pretensiosos
Mártires; Meras personagens
Em peças de altruísmo
Num teatro de fantoches!

Farsa! Como me divertem
Os falsos profetas apregoando
A hipocrisia de si mesmos

Deito-me com o ódio
Enleando-me em teias
De obscenidades mórbidas
Sob um dossel de chamas

Para na alvorada despertar
Na companhia de um cadáver
No meu leito e o amor no ar 
Que me adentra no peito

Que ardam os homens!
Que ardam até as donzelas
Cujas máscaras derretem
No fogo do desejo

Estas, cujos lábios rosados
São o sangue da Verdade
E na brancura do sorriso
Brilha o sémen luciferino
Da conspurcada Vontade

Quero ver o céu explodir
Na merda que lhe é lançada
Pelos louvores dos imbecis

Que morram todos os astros
E estrelas no firmamento!
E que do seu pó se forme
Tal serpente perniciosa
Que aniquile a humanidade!

Akila Sekhet